Lula deu 'ok' a empréstimos do mensalão e recebeu de esquema, diz Valério
O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza disse no depoimento prestado em setembro à Procuradoria-Geral da...

Beto Barata/AE
"Freud e Lula na Granja do Torto no fim de 2002"
O
empresário Marcos Valério Fernandes de Souza disse no depoimento
prestado em setembro à Procuradoria-Geral da República que o esquema do
mensalão ajudou a bancar "despesas pessoais" de Luiz Inácio Lula da
Silva. Em meio a uma série de acusações, também afirmou que o
ex-presidente deu "ok", em reunião dentro do Palácio do Planalto, para
os empréstimos bancários que viriam a irrigar os pagamentos de deputados
da base aliada.
Valério ainda afirmou que Lula atuou a fim de
obter dinheiro da Portugal Telecom para o PT. Disse que seus advogados
são pagos pelo partido. Também deu detalhes de uma suposta ameaça de
morte que teria recebido de Paulo Okamotto, ex-integrante do governo que
hoje dirige o instituto do ex-presidente, além de ter relatado a
montagem de uma suposta "blindagem" de petistas contra denúncias de
corrupção em Santo André na gestão Celso Daniel. Por fim, acusou outros
políticos de terem sido beneficiados pelo chamado valerioduto, entre
eles o senador Humberto Costa (PT-PE).
A existência do depoimento
com novas acusações do empresário mineiro foi revelada pelo Estado em
1.º de novembro. Após ser condenado pelo Supremo como o "operador" do
mensalão, Valério procurou voluntariamente a Procuradoria-Geral da
República. Queria, em troca do novo depoimento e de mais informações de
que ainda afirma dispor , obter proteção e redução de sua pena. A oitiva
ocorreu no dia 24 de setembro em Brasília - começou às 9h30 e terminou
três horas e meia depois; 13 páginas foram preenchidas com as
declarações do empresário, cujos detalhes eram mantidos em segredo até
agora.
O Estado teve acesso à íntegra do depoimento, assinado pelo
advogado do empresário, o criminalista Marcelo Leonardo, pela
subprocuradora da República Cláudia Sampaio e pela procuradora da
República Raquel Branquinho.
Valério disse ter passado dinheiro
para Lula arcar com "gastos pessoais" bem no início de 2003, quando o
petista já havia assumido a Presidência. Os recursos foram depositados,
segundo o empresário, na conta da empresa de segurança Caso, de
propriedade do ex-assessor da Presidência Freud Godoy, uma espécie de
"faz-tudo" de Lula.
O operador do mensalão afirmou ter havido dois
repasses, mas só especificou um deles, de aproximadamente R$ 100 mil.
Ao investigar o mensalão, a CPI dos Correios detectou, em 2005, um
pagamento feito pela SMPB, agência de publicidade de Valério, à empresa
de Freud. O depósito foi feito, segundo dados do sigilo quebrado pela
comissão, em 21 e janeiro de 2003, no valor de R$ 98.500.
Segundo o
depoimento de Valério, o dinheiro tinha Lula como destinatário. Não há
detalhes sobre quais seriam os "gastos pessoais" do ex-presidente.
Ainda
segundo o depoimento de setembro, Lula deu o "ok" para que as empresas
de Valério pegassem empréstimos com os bancos BMG e Rural. Segundo
concluiu o Supremo, as operações foram fraudulentas e o dinheiro, usado
para comprar apoio político no Congresso no primeiro mandato do petista
na Presidência.
No relato feito ao Ministério Público, Valério
afirmou que no início de 2003 se reuniu com o então ministro da Casa
Civil, José Dirceu, e o tesoureiro do PT à época, Delúbio Soares, no
segundo andar do Palácio do Planalto, numa sala que ele descreveu como
"ampla" que servia para "reuniões" e, às vezes, "para refeições".
Ao
longo dessa reunião, Dirceu teria afirmado que Delúbio, quando
negociava com Valério, falava em seu nome e em nome de Lula. E
acertaram, ainda segundo Valério, os empréstimos.
Nessa primeira
etapa, Dirceu teria autorizado o empresário a pegar até R$ 10 milhões
emprestados. Terminada a reunião, contou Valério, os três subiram por
uma escada que levava ao gabinete de Lula. Lá, na presença do
presidente, passaram três minutos. O empresário contou que o acerto
firmado minutos antes foi relatado a Lula, que teria dito "ok".
Dias
depois, Valério relatou ter procurado José Roberto Salgado, dirigente
do Banco Rural, para falar do assunto. Disse nessa conversa que Dirceu,
seguindo orientação de Lula, havia garantido que o empréstimo seria
honrado. A operação foi feita. Valério conta no depoimento que, esgotado
o limite de R$ 10 milhões, uma nova reunião foi marcada no Palácio do
Planalto. Dirceu o teria autorizado a pegar mais R$ 12 milhões
emprestados.
Portugal Telecom. Em outro episódio avaliado pelo
STF, Lula foi novamente colocado como protagonista por Valério. Segundo o
empresário, o ex-presidente negociou com Miguel Horta, então presidente
da Portugal Telecom, o repasse de recursos para o PT. Segundo Valério,
Lula e o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, reuniram-se com
Miguel Horta no Planalto e combinaram que uma fornecedora da Portugal
Telecom em Macau, na China, transferiria R$ 7 milhões para o PT. O
dinheiro, conforme Valério, entrou pelas contas de publicitários que
prestaram serviços para campanhas petistas.
As negociações com a
Portugal Telecom estariam por trás da viagem feita em 2005 a Portugal
por Valério, seu ex-advogado Rogério Tolentino, e o ex-secretário do PTB
Emerson Palmieri.
Segundo o presidente do PTB, Roberto Jefferson,
Dirceu havia incumbido Valério de ir a Portugal para negociar a doação
de recursos da Portugal Telecom para o PT e o PTB. Essa missão e os
depoimentos de Jefferson e Palmieri foram usados para comprovar o
envolvimento de José Dirceu no mensalão.
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