por Ricardo Brandt e Fausto Macedo | Estadão Conteúdo

Foto: Agência Brasil/Veja
A força-tarefa da Operação Lava Jato rastreia documentos sobre
contas secretas que seriam mantidas no exterior pelo ex-diretor da
Petrobras Nestor Cerveró e Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano -
apontados como "braços" do PMDB no esquema de corrupção na estatal -,
para tentar comprovar as informações prestadas pelo lobista Julio
Camargo em depoimento no qual incriminou o presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Na quinta-feira (16), Camargo, um
dos delatores da Lava Jato, declarou à Justiça Federal que Cunha exigiu
dele em 2011 US$ 5 milhões de propina para a manutenção de dois
contratos de navios-sonda assinados pela coreana Samsung em parceria com
a japonesa Mitsui. Foi a primeira vez que Camargo, que fez colaboração
premiada em outubro de 2014, citou Cunha como destinatário de propina.
Como possui foro privilegiado, o presidente da Câmara é alvo de
inquérito no Supremo Tribunal Federal que apura crimes de corrupção e
lavagem de dinheiro. Anteontem, o juiz federal Sérgio Moro, que conduz
os processos da Lava Jato na primeira instância, em Curitiba, anexou
extratos bancários com movimentações das contas aos autos da ação penal
em que Cunha foi citado por Camargo. Os documentos foram enviados por
autoridades da Suíça. O lobista disse no depoimento que Fernando Baiano
lhe relatou na época que estava sendo pressionado pelo deputado a pagar
US$ 10 milhões "atrasados" de um total de US$ 30 milhões de propina -
dos quais US$ 5 milhões seriam para o peemedebista. Camargo afirmou que
depositou recursos em contas no exterior tendo como beneficiário
Fernando Baiano após se encontrar pessoalmente com Cunha no Rio em
2011. Os documentos anexados por Moro ao processo dizem respeito às
contas Three Lions Energy Inc, Pentagram Energy Corp, Falcon Equity,
Marbury Investment & Finance, Russel Advisors e Forbal - todas
empresas offshores abertas por Baiano e Cerveró fora do Brasil para
movimentar recursos em paraísos fiscais, conforme as investigações. Na
ação penal são réus Cerveró, Baiano e Camargo, entre outros, acusados de
corrupção e lavagem de dinheiro. Nas próximas semanas, o juiz Sérgio
Moro deverá decidir se condena ou não os acusados. Toda documentação
arregimentada pela força-tarefa da Lava Jato na primeira instância é
compartilhada com a Procuradoria-Geral da República, que conduz os
inquéritos no âmbito do Supremo - entre eles o que investiga o
presidente da Câmara. Caberá ao procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, a tarefa de oferecer ou não denúncia contra Cunha e as outras
autoridades com prerrogativa de foro. Para o Ministério Público Federal
no Paraná, as movimentações já detectadas entre as contas das offshores
Piamonte, atribuída a Camargo, para a Three Lions, atribuída a Fernando
Baiano, e posteriormente para a Russel Advisors Inc, que seria mantida
por Cerveró, comprovariam os pagamentos de propina no caso dos
navios-sonda. Fernando Baiano e Cerveró também foram ouvidos na
quinta-feira passada por Moro em audiência da ação penal. Os dois
permaneceram calados.
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